segunda-feira, 2 de agosto de 2010

MAIS UMA RESPOSTA (por Fernando Salles)

"Quando somos jovens uma crítica não favorável sempre causa uma certa angústia e um sentimento de injustiça. Como proteção levamos para o lado pessoal e questionamos: quem você pensa que é para me criticar?
Quando nos tornamos adultos (e adultos aqui no sentido emocional) passamos a lidar com as críticas como um sinalizador das nossas ações. Obviamente somos criados para acertar, o que já é um erro, e, portanto, quando isso não ocorre, fica difícil admitir e assumir os nossos próprios erros. Isso precisa de amadurecimento.
Em algumas profissões a crítica é parte do ofício, como no teatro e cinema. Lidar com ela, portanto, é uma necessidade até por uma questão orientadora.
Ocorre que hoje em dia o crítico se tornou um formador de opinião, o que lhe confere um poder maior do que ele realmente possui, ainda mais quando ele, o crítico, sabe disso e passa a gostar desse, digamos, poder de sugestão.
Junte-se a isso o fato de que virou moda ter, além da crítica, a avaliação, aquela história das estrelinhas. Isso passa a ser um julgamento onde o crítico é um César em uma arena ávido a mostrar o seu positivo ou não numa arena cheia de leões.
O ponto aqui não é “criticar” a crítica na sua essência, pelo que ela tem na função real: ser uma análise de um trabalho feito. Partimos do pressuposto que estamos falando de profissionais preparados para fazê-lo. Que têm amor e interesse pela arte que irão avaliar.
O que não se pode aceitar são as críticas feitas por fazer e além disso, pior é quando vem acompanhadas de avaliação com estrelinhas.
Na semana passada, lí uma crítica na folha da Mônica Rodrigues para a peça infantil Pelos Ares, que tem como o tema um menino de 9 anos que recebe como presente de aniversário de uma “fada gorda” o poder de voar. A história é basicamente as consequências que esse pedido causa nas pessoas que convivem com essa criança e demonstra algumas dificuldades de relação.
A crítica de Mônica me chamou a atenção por uma incongruência.Ela usa o espaço para dizer, que na opinião dela, há o uso de clichês e da linguagem caricata na peça. Até aí, tudo bem, mesmo sabendo que em uma peça infantil o uso de clichês e linguagem caricata são recursos que podem ser utilizados e muito bem. É uma opção de direção que pode agradar ou não. No caso de Mônica não agradou, mas ela não explica o porque. Porém, mais adiante, ela questiona o fato da fada da peça não ter poesia e magia. Ora, mais clichê e caricato do que uma fada com poesia e magia, impossível. Aqui começa a incongruência. Criticar o fato de ter clichês, tudo bem, o que não se pode aceitar é essa contradição no texto.
O que piora essa postura é o fato de sua avaliação ter colocado como razoável pautado num pensamento não linear.
Além disso, se não achou a peça tão boa assim, porque será que colocaram com destaque a foto de divulgação com meia página. Seria um prêmio de consolação?
Acho que está mais do que na hora de acabar com essas avaliações dos críticos que podem até acabar com uma peça, com uma produção."

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